Stuart Hall é um pesquisador jamaicano, nascido em 1932 na cidade de Kingston. Filho mais jovem de uma família de classe média de ideais imperialistas e racistas. Hall adquiriu, desde jovem, consciência "da condição da cultura colonial, de como a gente sobrevive à experiência de dependencia colonial, de classe e cor, e de como isso pode destruir você, subjetivamente". Partindo de sua experiência pessoal o pesquisador desenvolve conceitos como os de identidade, cultura e tradição na modernidade. Foi diretor do Center for
Contemporany Cultural Studies (CCS) da Universidade de Birmingham, na
Inglaterra, nos anos 70. Sucessor de Raymond Williams no posto. Posteriormente,
assumiu os Estudos Culturais como projeto institucional na Open University.
Para conhecer melhor esse pensador e as motivações de seu trabalho, sugiro a leitura da obra de onde extraio alguns conceitos básicos:
Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Trad. Adelaine La Guarda Resende. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
Teoria
X Ideologia
O pensamento tem um peso
específico, pois o discurso teórico é uma prática cultural crítica, que se faz
com a pretensão de intervir em uma discussão mais ampla; por natureza, a teoria
tem esse potencial de intervenção. Quando revê a questão da ideologia Hall diz:
“Também quero colocá-la ( a ideologia) enquanto problema geral – um problema para
a teoria porque também é um problema para a política e a estratégia.”(PI).(p.13)
A teoria é uma tentativa de solucionar problemas políticos e estratégicos; não
uma elaboração a partir deles.A teoria é uma tentativa de saber algo que, por sua vez, leva a um novo
ponto de partida em um processo sempre inacabado de indagação e descoberta; não
é um sistema que precisa ser acabado, útil na produção do conhecimento. (p.13-14)
Pensamento
Diáspórico
A partir do conceito de
nação imaginada de Benedict Anderson para quem as nações não são apenas
entidades políticas soberanas, pois dentro delas articulam-se tensões entre o
individual e o coletivo, Hall levanta as questões: “Essa questão é central, não
apenas para seus povos, mas para as artes e culturas que produzem, onde um
certo “sujeito imaginado” está sempre em jogo. Onde começam e onde terminam
suas fronteiras, quando regionalmente cada uma é cultural e historicamente tão
próxima de seus vizinhos e tantos vivem a milhares de quilômentros de casa?
Como imaginar sua relação com a terra de origem, a natureza de seu
“pertencimento” no Caribe à luz dessa experiência diaspórica?”(p.26)
Diáspora:
termo que inicialmente refere-se à dispersão judaica devido à perseguição
política e étnica. Utilizado por Hall para definir também a dispersão dos
negros caribenhos, cuja metáfora de principal correspondência encontra-se no
Velho Testamento, na libertação do povo judeu por Moisés
“Os entrevistados de Mary
Chamberlain também falam eloquentemente da dificuldade sentida por muitos dos
que retornam em se religar as suas sociedades de origem. Muitos sentem falta
dos ritmos de vida cosmopolita com os quais tinham se aclimarado. Muitos sentem
que a “terra” tornou-se irreconhecível. Em contrapartida, são vistos como se os
elos naturais espontâneos que antes possuíam tivessem sido interrompidos por
suas experiências diaspóricas. Sentem-se felizes por estar em casa. Mas a
história, de alguma forma, interveio irrevogavelmente.”(p.26)
“Não podemos jamais ir para
casa, voltar à cena primária enquanto momento esquecido de nossos começos e “autenticidade”,
pois há sempre algo no meio. Não podemos retornar a uma unidade passada, pois
só podemos conhecer o passado, a memória, o inconsciente através de seus
efeitos, isto é, quando este é trazido para dentro da linguagem e de lá
embarcamos numa (interminável) viagem. Diante da “floresta de signos”
(Baudelaire), nos encontramos sempre na encruzilhada, com nossas histórias e
memórias (“relíquias secularizadas”, como Benjamin, o colecionador, as
descreve) ao mesmo tempo que esquadrinhamos a constelação cheia de tensão que
se estende diante de nós, buscando a linguagem, o estilo, que vai dominar o
movimento e dar-lhe forma. Talvez seja mais uma questão de buscar estar em casa
aqui, no único momento e contexto que temos...”(p.27)
Identidade
Cultural
Em uma concepção fechada de
pátria, tribo e diáspora: “Possuir uma identidade cultural nesse sentido é
estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando ao
passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta. Esse cordão umbilical é
o que chamamos de tradição, cujo teste é o de sua fidelidade às origens, sua
presença consciente diante de si mesma, sua “autenticidade”. É claro, um mito –
com todo o potencial real dos nossos mitos dominantes de moldar nossos
imaginários, influenciar nossas ações, conferir significado às nossas vidas e
dar sentido à nossa história.”(p.29)
PS: Conceito baseado sobre
uma concepção binária de diferença, fundado sobre a construção de uma fronteira
de exclusão e depende da construção de
um “outro” e de uma oposição rígida entre o dentro e o fora.
“...é importante ver essa
perspectiva diaspórica da cultura como uma subversão dos modelos culturais
tradicionais orientados para nação. Como outros processos globalizantes, a
globalização cultural é desterritorializante em seus efeitos. Suas
compreensões espaço-temporais, impulsionadas
pelas novas tecnologias, afrouxam os laços entre a cultura e o lugar.
Disjunturas patentes de tempo e espaço são abruptamente convocadas, sem
obliterar seus ritmos e tempos diferenciais. As culturas, é claro, têm “seus
locais”. Porém, não é mais tão fácil dizer de onde elas se originam,”(p.36)
Cultura
e hibidismo
Sobre a realidade cultural
no Caribe:
“A distinção de nossa
cultura é manifestamente o resultado do maior entrelaçamento e fusão, na
fornalha da sociedade colonial, de diferentes elementos culturais africanos,
asiáticos e europeus (...) Esse resultado híbrido não pode mais ser facilmente
desagregado em seus elementos “autênticos” de origem .”(p.31)
“Através da transculturação
“grupos subordinados ou marginais selecionam e inventam a partir dos materiais
a eles transmitidos pela cultura metropolitana dominante. É um processo da
“zona de contato”, um termo que invoca a “copresença espacial e temporal dos
sujeitos anteriormente isolados por disjunturas geográficas e históricas.””(.31)
Multicultural
/ Multiculturalismo
“Multicultural é um termo
qualificativo. Descreve as características sociais e os problemas de
governabilidade apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes
comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo
tempo em que retêm algo de sua identidade “original”.”(p.50)
“Multiculturalismo é
substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou
administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades
multiculturais.”(p.50)
Raça
e Etnia
O “termo raça é aplicado
geralmente aos afro-caribenhos e etnicidade aos asiáticos. Considera-se que
raça traduza melhor a experiência afro-caribenha por causa da importância da
cor da pele, uma ideia derivada da biologia.(...) Os asiáticos não constituem
uma raça, nem tampouco uma única etnia.”(p.66)
“Já a “etnicidade” gera um
discurso em que a diferença se funda sob características culturais e religiosas.
Nesses termos, ela frequentemente se contrapões a raça. Porém, essa oposição
binária pode ser delineada de forma muito simplista.”(p.67)
Parabéns pelo blogue. Em meio a tanta superficialidade, um espaço de respeito e conhecimento.
ResponderExcluirEliane F.C.Lima (Blogue "Literatura em vida 2")
Eliane, muito obrigada pelo incentivo...
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